No Brasil, os estudos
feitos por Mário de Andrade nas primeiras décadas do século 20 abriram espaço
para o surgimento de uma produção artística em que o negro começava a ser
representado na obra de artistas com formação clássica, como Tarsila do Amaral,
Di Cavalcanti, Portinari e Lasar Segall ANDRADE, 1993). No entanto, continuaram
esquecidas e desvalorizadas as produções de artistas afro-brasileiros de
formação acadêmica, como Estevão Silva e Arthur Timóteo da Costa, e de artistas
afro-brasileiros de origem popular, como Heitor dos Prazeres e Francisco
Guarany.
Na sala de aula
Decorridos nove anos da
promulgação da Lei nº10.639 de 09 de Janeiro de 2003, parece que muitos
docentes não compreenderam ainda a importância de uma prática pedagógica que
desfaça estereótipos e crie nos alunos sentimentos de pertencimento e orgulho
de suas origens afrodescendentes.
Segundo Gomes (2002), o
negro, na maioria das vezes, é apresentado aos alunos como um escravo sem
passado ou, então, como um malandro ou mesmo um marginal. Isso reforça o
estereótipo do não lugar social
imposto a ele. Há professores que desenvolvem o tema em sala de aula, mas, muitas vezes, folclorizam e estigmatizam a imagem do negro, pensando ser essa a melhor solução para manter a harmonia em sala de aula e reafirmar que não existe racismo entre seus alunos.
imposto a ele. Há professores que desenvolvem o tema em sala de aula, mas, muitas vezes, folclorizam e estigmatizam a imagem do negro, pensando ser essa a melhor solução para manter a harmonia em sala de aula e reafirmar que não existe racismo entre seus alunos.
Numa pesquisa realizada no Paraná, Santana (2010) relata
que, em quase todas as escolas que visitou a história e cultura africanas e
afro-brasileiras eram temas, trabalhados em atividades desarticuladas que
tendiam à folclorização, além de
romantizar e naturalizar o período colonial brasileiro e o sistema
escravagista. Os castigos físicos impostos aos negros escravizados ganhavam destaque
ao mesmo tempo em que silenciavam a resistência dos milhares de quilombos
criados em diversos lugares do Brasil.
Texto, a
produção imagética dos artistas afro-brasileiros é pouco valorizada pelos
docentes de arte. Estes continuam priorizando no ensino uma estética de origem européia, utilizando
em suas aulas a produção de artistas consagrados pela história da arte brasileira e mundial, mas pouco
relacionada a questões referentes à formação étnica e racial do
Brasil.
inegável a importância artística de muitas dessas imagens, como também o fato
de denunciarem um período de opressão aos povos de origem africana. Mas, em
tempos das Leis nº 10.639, de 2003, e nº 11.645, de 2008, surge a necessidade
de uma prática pedagógica que reforce a figura do negro como um produtor de
cultura.
começaram a dar valor à arte africana. Entre eles, Pablo Picasso, que
apresentou a potencialidade expressiva das máscaras ritualísticas, descobertas
em urna de suas viagens à África.
Durante milênios, os africanos usaram a geometrização e a abstração em suas
representações plásticas. Picasso se
inspirou na geometrização das máscaras para realizar seus trabalhos cubistas (CARIS E, 1974).
inspirou na geometrização das máscaras para realizar seus trabalhos cubistas (CARIS E, 1974).
Apreciar, refletir, analisar e
produzir em sala de aula peças utilitárias e fazer leituras de pinturas de
artistas que retrataram o negro sob uma ótica exótica, como Albert Eckhout,
Jean Baptiste, Debret e Johann Moritz e Rugendas.
Analisar e discutir as obras de Hector Carybé, Tarsila do Amaral, Candido Portinari e Di Cavalcanti que mostram como o branco vê o negro.
Observar as diferenciações nas pinturas de artistas que mostram a visão do negro sobre si mesmo, como Artur Timóteo, José Benedito Tobias e Heitor dos Prazeres.
Discutir fatos que envolveram preconceito racial nas artes, como o caso de Estêvão Silva, no século 19, artista negro que não ganhou um prêmio da Escola Nacional de Belas Artes por considerarem sua conduta "imprópria", fazer associações entre as obras de artistas que mostraram sua religiosidade e seu universo místico, como o Mestre Didi, Rosana Paulino e Rubem Valentim. Conhecer a produção de artistas negros contemporâneos, como Emanoel Araújo e Tatti Moreno.
Referências - Sugestões de leitura
ANDRADE, Mário
de. Fotógrafo e turista aprendiz. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros, 1993.
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e ações para a educação das relações étnico-raciais. Brasília: SECAD, 2006.
CARISE, Iracy. A arte negra na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Artenova, 1974.
DA SILVA, Maria
José Lopes. As artes e a diversidade étnico-cultural na escola básica. In: MUNANGA, Kabengele (Org.). Superando o racismo na escola. Brasília: MEC/BID/UNESCO, 2005. p. 126- 127.
GOMES, Nilma Uno. Educação cidadã, etnia e raça: o trato pedagógico da diversidade. In: CAVALLEIRO, Eliane (Org.)/ Recismçe antirracismo na educação: repensando nossa prática. São Paulo: Selo Negro, 2001. p. 83-96.
GOMES, Nilma Lino. Educação e identidade negra. In: Revista Aletria: alteridades em questão, Belo Horizonte, POSLlT/CEL, Faculdade de Letras da UFMG, v. 6, n. 9, p. 38-47, dez., 2002.
Disponível em: <http://migre.me/9WU3V>.Acesso em: 20 jun. 2012.
GOMES, Nilma Uno. Cultura negra e educação. In: Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 23, p. 75-85, mai./ago., 2003. Disponível em: <http://migre.me/aMOHs>. Acesso em: 18 jun. 2012.
GOMES, Nilma Uno; SILVA, Petronilha B. Gonçalves (Orgs.). Experiências étnico-culturais para a formação de professores. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
OLIVEIRA, Luiz Fernandes. História da África e dos africanos na escola: desafios políticos,
epistemológicos e identitários para a formação dos professores de história. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2012.
SANTANA, Jair. A lei 10.639/03 e o ensino de artes nas séries iniciais: políticas
afirmativas e folclorização racista. 2010. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Paraná. Curitiba.
SILVA, Petronilha B. Gonçalves; GOMES, Nilma Uno (Orgs.). Experiências étnico-culturais para a formação de professores. Belo Horizonte: Autenticação, 2006.
SILVA, Petronilha B. Gonçalves. A palavra é... Africanidades. In: Presença Pedagógica. Belo Horizonte, v. 15, n. 86, p. 42-47, mar/abr., 2009.
Fonte: Revista
Presença Pedagógica nº 35 – Novembro e Dezembro de 2012.
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