Luiz Henrique Lima[1]
Luiz Henrique Lima |
O racismo existe na sociedade
brasileira. Está profundamente enraizado na nossa cultura. O racismo brasileiro
é particularmente longevo porque é habilmente dissimulado sob o discurso
hipócrita de que somos uma nação sem preconceitos. O racismo brasileiro se
manifesta todos os dias, de múltiplas formas, do sul ao norte, do oeste ao
leste. O racismo brasileiro é brutal e cruel, principalmente com as crianças e
jovens negros, que desde a infância sofrem violências e abusos, verbais,
psicológicos e físicos. O racismo brasileiro precisa ser combatido todos os
dias, mas jamais será vencido enquanto não for reconhecido.
Por ocasião da celebração do Dia
Nacional da Consciência Negra, li, ouvi e assisti um sem número de comentários
e opiniões dizendo que esse dia não deveria existir, por essa ou aquela razão.
Discordo.
É necessário sim que haja pelo menos
uma data dedicada à reflexão sobre a situação do povo negro em nosso país.
Porque nunca seremos uma nação plenamente democrática, civilizada e justa
enquanto o racismo não for extirpado e enquanto as manifestações racistas não
forem denunciadas com vigor e repelidas com nojo.
Fomos a última nação americana a
abolir a escravidão, não por concessão da monarquia e do conservadorismo, mas
graças à heroica luta de abolicionistas como Luiz Gama, José do Patrocínio,
André Rebouças, Joaquim Nabuco, Olavo Bilac, Rui Barbosa e o bravo cearense
Francisco José do Nascimento, o "Dragão do Mar", que se recusava a
transportar escravos em sua jangada.
Todavia, a abolição da escravidão não
aboliu o preconceito e a discriminação racial, que são tão profundos na nossa
cultura ao ponto de que não é incomum presenciar babás negras de crianças
brancas discriminarem crianças negras que brincam no mesmo ambiente ou
policiais negros abordarem preferencialmente como suspeitos os adolescentes e
jovens negros, desconsiderando os brancos quando em situações semelhantes.
As atitudes racistas ocorrem a cada momento e muitos fingem não ver ou "levam na brincadeira". Racistas são covardes, violentos e traiçoeiros.
As atitudes racistas ocorrem a cada momento e muitos fingem não ver ou "levam na brincadeira". Racistas são covardes, violentos e traiçoeiros.
Quem tem filhos, afilhados ou amigos
próximos de origem negra sabe muito bem que a discriminação começa praticamente
no berço. Já na primeira infância se multiplicam as "brincadeiras" em
classe ou nos parquinhos acerca do "cabelo ruim" das crianças negras.
O crescimento não alivia a violência.
Como se sabe, os adolescentes e jovens negros são o alvo preferencial das
"balas perdidas" de nossa insegurança urbana e têm três vezes maior
probabilidade de serem vítimas de homicídios.
Os negros sobreviventes, os que
conseguem concluir o ensino superior e até a pós-graduação, esses vão ser
discriminados no mercado de trabalho. Entre os negros, o desemprego é maior;
entre os empregados, os negros ganham menos e ocupam uma fração ínfima de
posições de liderança. E aqueles que as alcançam, quando não são celebridades
nacionais, sofrem episódios de discriminação ao tentar se registrar em um hotel
ou embarcar em um cruzeiro marítimo, confundidos com seguranças, motoristas ou
domésticas de algum patrão branco.
Portanto, é grave hipocrisia negar a
presença e a força do racismo na sociedade brasileira. Não se pode derrotar
aquilo que não se conhece ou que não é visto como um inimigo crucial de um
projeto de nação tão bem delineado no preâmbulo da nossa Constituição da
República: "instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social..." E, ainda, no art. 3º: constitui objetivo fundamental da
República brasileira, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Isso não ocorrerá enquanto não
vencermos o racismo e para isso precisamos reconhecê-lo e combatê-lo todos os
dias.
[1]
Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT - Graduado em Ciências Econômicas,
Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento
Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. Fonte:
https://www.tce.mt.gov.br/artigo/show/id/390/autor/6
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