Luiz Henrique Lima[1]
Luiz Henrique Lima |
Um dos espetáculos mais deprimentes dos últimos
meses é o vendaval de calúnias, impropérios e mentiras que se abateu sobre uma
frágil adolescente sueca, Greta Thunberg. É patético ouvir mulheres, muitas
vezes oprimidas e discriminadas em seus ambientes profissionais e familiares,
reproduzindo maledicências de extremo conteúdo misógino. É nauseante presenciar
setentões zangados, que jamais moveram um dedo por uma causa de interesse
coletivo, postando zombarias quanto ao fato da jovem ser portadora da Síndrome
de Asperger. Visão, uma revista portuguesa (www.visao.sapo.pt), fez uma extensa
matéria sobre as "mentiras mais loucas" que são propagadas contra
essa garota. Até o vídeo de alguém atirando com uma metralhadora foi divulgado
como se fosse ela, além de calúnias sobre seus pais.
Por que tudo isso?
Greta incomoda e muito porque com a sua iniciativa
solitária alguns meses atrás de postar-se com um cartaz de protesto defronte ao
Parlamento sueco deflagrou um movimento de milhões de jovens em dezenas de
países.
Greta irrita e muito porque a crueza e objetividade
de suas palavras denuncia, por contraste, a hipocrisia de discursos empolados
que disfarçam a inércia e o conformismo.
Greta exaspera e muito porque o seu ativismo põe a
nu a inação de tantos que tinham a obrigação ética e profissional de agirem.
Greta desconforta e muito porque a sua coragem
contrasta com a covardia de tantos líderes políticos e empresariais.
Os reacionários e ressentidos criticam Greta de
todas as formas e por quaisquer motivos. E quando faltam motivos, inventam-nos,
temperando-os com inveja, raiva e brutalidade.
Exigem que Greta, com seus dezesseis anos,
apresente a maturidade e o equilíbrio que não cobram de Trump e assemelhados.
Reclamam que Greta, estudante secundarista, não
conclua suas críticas com "soluções técnica e economicamente
viáveis", que nem os próprios governos e conglomerados empresariais
conseguem formular e/ou muito menos implementar.
Denunciam que Greta é repetitiva e monotemática, ao
cuidar apenas da questão das mudanças climáticas, sem perceber que isso é, ao
mesmo tempo, uma virtude e uma necessidade. Virtude, porque ela não tem a
pretensão de abraçar todas as causas, mas se concentrar naquela que julga a
mais importante ou na qual sua participação pode ser mais efetiva. Necessidade,
porque enquanto uma crise não é resolvida - e ao contrário se agrava – tanto
mais crucial que o problema seja debatido.
Quanto a mim, não tenho ódio nem raiva a Greta
Thunberg. Tenho admiração pela sua coragem e desprendimento. Tenho respeito
pela sua sinceridade e também, reconheço, tenho um pouco de inveja de sua
juventude e vitalidade. E tenho muita compaixão da miséria moral, intelectual e
emocional dos seus detratores.
Vá em frente, Greta! Torço por ti e pela tua
geração de jovens, que é a dos meus filhos, que se dedicam a lutar pela vida.
Como cantava Gonzaguinha, "eu acredito é na rapaziada que segue em frente
e segura o rojão (...) eu vou à luta com essa juventude que não corre da raia à
troco de nada".
PS: Esse artigo já estava pronto quando uma
autoridade de nosso país depreciativamente qualificou Greta como
"pirralha", o que me fez lembrar Tom Jobim: "se todos (os
pirralhos) fossem no mundo iguais a você, que maravilha viver ...".
[1]
Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT - Graduado em Ciências Econômicas,
Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento
Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia. Fonte: https://www.tce.mt.gov.br/artigo/show/id/393/autor/
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