Difícil
vida dos professores tanto do ensino privado como público no Brasil.
Necessidade de valorização dos mestres e não à utilização da ideia de que
profissão de professor é missão ou sacerdócio. Artigo de Nelson Pretto[1]
A labuta diária do professor foi sendo dificultada pelo excesso de
demandas e cobranças, intensificadas pelo modelo neoliberal que trouxe para a educação
palavras antes distantes do nosso campo como produtividade, produtivismo, performace, ranking,
qualidade total, entre tantas outras. Mas nós, professores, somos uns otimistas
por natureza! Vivemos e trabalhamos com uma dedicação que nos faz confundir os
momentos de lazer com os momentos de trabalho.
Com estas palavras iniciei a
apresentação do livro “Trabalho docente e saúde: efeitos do modelo neoliberal”,
de Carlos Freitas (Editora da UEFS).
A educação ocupa cada vez mais
as páginas dos jornais e a agenda dos políticos, no entanto, parece-me
importante explicitar que o trabalho do professor tem que ser compreendido para
além da ideia de missão. Essa tem sido ideia constante no discurso
de colegas que, compreendendo (ou apenas sentindo!) a dureza da profissão e, ao
mesmo tempo, a sua importância, a associam a uma dimensão quase que espiritual,
externa às motivações profissionais, algo que não teria relação com a
necessária profissionalização do seu trabalho. Por isso, com muita frequência, surge
a ideia de missão ou, muito pior e também bastante comum, a
ideia do magistério como um sacerdócio. Penso, ser necessário
superar essa perspectiva do trabalho docente e compreender que nossas condições
trabalho pioram dia a dia, em todos o níveis e esferas.
O trabalho docente na rede
particular foi precarizado, com rotinas intensificadas pelo formato de
remuneração centrada na hora-aula e, obviamente, com a insegurança no emprego
ao final de cada ano. Difícil situação a dos mestres, que precisam resgatar sua
dimensão intelectual enquanto lideranças acadêmicas e políticas junto aos
jovens, estes também fragilizados pela fragilidade dos laços familiares, como
bem afirmou Freitas. Mestres que, agora mais do que nunca, precisam estar
antenados às velozes transformações do mundo contemporâneo, principalmente as
tecnológicas, que trazem mais e novas demandas para o próprio trabalho docente.
Mestres que, como nós das universidades públicas, vivemos um “trabalho
intensificado”, como muito bem apontaram Waldemar Sguissardi e João dos Reis
Silva Junior (Editora Xamã).
Portanto, estamos todos nos
mesmo barco. O barco neoliberal que transforma radicalmente o trabalho dos
professores, já não fazendo mais tanta diferença se do setor privado ou
público.
No caso das universidades
públicas, estamos assolados por editais, projetos, relatórios e prestações de
contas que nos afastam daquilo que é o fundamental doser universidade:
pensar e estabelecer a crítica. Passamos a atuar num correia de transmissão de
políticas gestadas externamente e que, literalmente, nos empurram para um
fazer, fazer, fazer, sem o devido tempo para o pensar. Acrescente-se a isso as
dificuldades burocráticas da legislação que trata a pesquisa científica da
mesma maneira que a construção de pontes ou estádios, estes, aliás, já tratados
de forma diferenciada!
No caso da rede privada,
Freitas identifica na sua pesquisa a existência de um “mal-estar docente” a
partir da constatação de que o próprio tema da saúde passou a fazer parte da
agenda sindical dos professores. O que constatamos é que, literalmente, os
professores – em sua maioria comprometidos e lutadores – efetivamente “dão
sangue” no seu cotidiano e este “dar sangue” também pode ser entendido como uma
metáfora para as condições laborais com consequência para a sua saúde.
Educação, é tema atual que demanda uma leitura atenta do momento
histórico, exigindo de todos, especialmente dos mestres, um comprometimento
acadêmico, político e sindical que lhes possibilitem engrossar o caldo ativista
daqueles que, como eu, considera a educação um importante espaço para a
formação da cidadania e não apenas um local para consumo de informações.
São enormes os desafios, mas enorme é também o potencial de mudança,
desde que compreendamos a educação como um direito e não apenas mais um serviço
a ser ofertado à população. Abaixo, ilustração (genial!) de Cau Gomez
para esse artigo, publicado no jornal A Tarde, de Salvador, em 03.05.13, pag.
02.
Cau Gomez, em A Tarde
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