Marinaldo
Custodio[1]
Ato
em duas cenas com atores conhecidos do grande público, ou nem tanto.
Cena 1
Filhos de Políticos e a Escola Pública! |
Dias
desses, vejo no centro de Cuiabá uma
reunião de professores, com carro de som, falação, imprensa e tudo o mais
Circulo um pouco por ali pensando em
rever amigos, afinal já fui um deles ], na verdade acho que nunca deixarei de ser um deles. Mas não vejo
ninguém do meu circulo de amizades.
Experimento, então, lugar. Ligo para o amigo M.S, de Várzea Grande, afastado há dois ou três anos
da função, mas que tem (ou tinha) amigos chegados, vizinhos trabalhando em sala de aula, portanto um dia como aquele bem
poderia ter sido propício para eles virem ao centro espairecer um pouco, também rever amigos, ir a banca de jornal,
comprar um CD. Afirmo isso a ele, e a
sua resposta: “ Você está enganado! Estamos todos afastados do trabalho, Todos de Licença,. Alguns, já
esperando a aposentadoria”. – Mas e o
Z.Z, não continua dando aula? Não, meu
caro, nem ele aguentou mais. Também, do
jeito que a coisa está a gente
não pode nada, eles (alunos) podem tudo,
não podemos reprovar ninguém, o
desinteresse e o desrespeito são gerais, a coisa tá feia. O Z.Z, também
estava feio na foto, se ele não para, não sei o que tinha virado. Poderia, uma hora dessas, estar
tomando o seu tarja-preta para
depressão.
Cena 2
Sábado,
27 de Abril. Encontro Odair de Moraes no
Bazar do Livro. Ali, cercados de matéria tão preciosa, conversamos, inclusive,
sobre professores. Ele comenta recente celeuma na impressa por conta de Artigo de Roberto Boaventura da Silva Sá,
falando, entre outras coisas, de
brilhantes ex-acadêmicos da UFMT que desistem de ser professores,
vitimados pelo desleixo do Estado para com a educação, nocauteados pelo ambiente
de violência nas escolas, pela desintegração
familiar e social que deságua na sala
de aula e pela óbvia falta de perspectivas
da profissão. Todavia, Odair põe
pimenta a mais na discussão quando lembra a inadequação de alguns desses
personagens à profissão escolhida – como, em parte, admito ter acontecido
comigo. Disse ele: !Está certo que o quadro da educação é preocupante, as vezes mesmo desesperador, mas muitas vezes o cara desiste de ser professor
porque não consegue dar boas aulas,
dominar a turma, ter o controle emocional da situação, envolver os alunos... Também os professores que fracassam tem lá a sua parcela de culpa”.
Num
poema de Drummond, o portão fica
oscilando entreaberto, para os alunos retardatários. Na escola de nosso tempo, principalmente na formação básica (níveis fundamental e
médio), vejo que o portão parece nem mais oscilar ao vento morno da manhã
esperando os professores retardatários. Para muitos deles o portão está fechado. Pelo visto, para sempre.
[1] É escritor
(publicou! Viagens Inventadas: E Quase contos, em 2010) e mestre em literatura
brasileira pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Contato: mcmarinaldo@hotmail.com - Fonte:
Jornal A Gazeta do dia 04 de maio de 2013 – Caderno Opinião - p. 2A
0 comentários:
Postar um comentário