sábado, 4 de maio de 2013

Professores e o Portão Fechado


Marinaldo Custodio[1]
Ato em duas cenas com atores conhecidos do grande público, ou nem tanto.
Cena 1
Filhos de Políticos e a Escola Pública!
Dias desses, vejo no centro de Cuiabá  uma reunião de professores, com carro de som, falação, imprensa e tudo o mais Circulo  um pouco por ali pensando em rever amigos, afinal já fui um deles ], na verdade acho que nunca  deixarei de ser um deles. Mas não vejo ninguém do meu  circulo de amizades. Experimento, então, lugar. Ligo para o amigo M.S, de  Várzea Grande, afastado há dois ou três anos da função, mas que tem (ou tinha) amigos chegados, vizinhos trabalhando em  sala de aula, portanto um dia como aquele bem poderia ter sido propício para eles virem ao centro espairecer um pouco,  também rever amigos, ir a banca de jornal, comprar um CD. Afirmo isso a  ele, e a sua resposta: “ Você está enganado! Estamos todos afastados  do trabalho, Todos de Licença,. Alguns, já esperando a  aposentadoria”. – Mas e o Z.Z, não continua dando aula? Não,  meu caro, nem ele aguentou mais. Também, do  jeito que a coisa está  a gente não pode nada,  eles (alunos) podem tudo, não podemos  reprovar ninguém, o desinteresse e o  desrespeito  são gerais, a coisa tá feia. O Z.Z, também estava feio na foto, se ele não para, não sei o que tinha  virado. Poderia, uma hora dessas, estar tomando o seu tarja-preta para  depressão.
Cena 2
Sábado, 27 de Abril.  Encontro Odair de Moraes no Bazar do Livro. Ali, cercados de matéria tão preciosa, conversamos, inclusive, sobre professores. Ele comenta recente celeuma na impressa por conta de  Artigo de Roberto Boaventura da Silva Sá, falando, entre outras coisas, de  brilhantes ex-acadêmicos da UFMT que desistem de ser professores, vitimados pelo desleixo do Estado para com a educação, nocauteados pelo ambiente de violência nas escolas, pela  desintegração familiar e social  que deságua na sala de  aula e pela óbvia falta de  perspectivas  da profissão. Todavia,  Odair põe pimenta a mais na discussão quando lembra a inadequação de alguns desses personagens à profissão escolhida – como, em parte, admito ter acontecido comigo. Disse ele: !Está certo que o quadro da educação é preocupante,  as vezes mesmo desesperador, mas  muitas vezes o cara desiste de ser professor porque não consegue dar boas  aulas, dominar a turma, ter o controle emocional da situação, envolver os  alunos... Também os professores que  fracassam tem lá  a sua parcela de  culpa”.
Num poema de  Drummond, o portão fica oscilando entreaberto, para os alunos retardatários. Na escola de nosso tempo, principalmente  na formação básica (níveis fundamental e médio), vejo que o portão parece nem mais oscilar ao vento morno da manhã esperando os professores retardatários. Para muitos  deles o portão está fechado. Pelo  visto, para sempre.



[1] É escritor (publicou! Viagens Inventadas: E Quase contos, em 2010) e mestre em literatura brasileira pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Contato: mcmarinaldo@hotmail.com - Fonte: Jornal A Gazeta do dia 04 de maio de 2013 – Caderno Opinião  - p. 2A 

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