Wilson Carlos Fuáh[1]
Wilson Fuah |
Porque será que nós cuiabanos não valorizamos nossa
história? Porque será que muitos cuiabanos não sabem o que foi o movimento
rusga? Porque será que tudo que acontece aqui, é logo diminuído na importância
e na grandeza.
Guerras e revoluções aconteceram pelo mundo afora,
muitos morreram por uma causa, muitos defenderam uma causa. No Rio Grande do
Sul comemora-se a Revolução Farroupilha, (foi instituída a semana Farroupilha),
e aqui em Cuiabá? A Rusga, foi jogada no esquecimento, não tem um Vereador, e
nenhum Prefeito Cuiabano capaz instituir a Semana da Rusga, é importante que os
nossos jovens cuiabanos saibam o que foi a Rusga, porque ela existiu e o
resultado dela como movimento histórico, o que foi feito dos lideres movimento?
Por que os cuiabanos matavam os traidores com bala
de prata? Por que Cuiabá foi a segunda cidade do país a desenvolver esse
movimento histórico?
São perguntas que ficaram perdidas no tempo, e que
apenas são relembradas como simples acontecimento. É através da história que
podemos entender o nosso passado e com certeza vamos ficar sabendo que nossos
parentes, nossos bisavôs viveram historicamente nessa passagem de luta pelo
respeito aos trabalhadores cuiabanos.
Para dar um sentido de exaltar essa passagem
histórica para todos os cuiabanos, fatos que aconteceram aqui nas ruas de
Cuiabá, e informar que movimentos iguais a este aconteceram concomitantemente
em cinco estados do Brasil no período de 1832 a 1.838. No século XIX, conta a
história que os nativos cuiabanos passavam por situação de opressão, abuso de
autoridade e imposição de poder, que eram situações impostas pelos comerciantes
portugueses, que gozavam de todos os privilégios, regalias e licenciosidades
durante o período regencial.
Membros do comando da elite cuiabana e com a
simpatia do governo provisório de ideologia liberal, Sr. João Poupino Caldas
que tentou abafar o movimento, não conseguiu, pois a revolta era grande, foi
esquematizado uma estratégia de tomada do poder e vingança contra os
comerciantes portugueses e assim aconteceu o primeiro posicionamento dos
cuiabanos contra a situação impostas pelos costumes e organização de mando
trazido pelo regime colonial.
A Rusga aconteceu no dia 30 de maio de 1834,
durante a tarde a ala dos radicais liberais reuniram no Campo d’Ourique (hoje
Praça Moreira Cabral), e esquematizaram para a noite a maior matança de
portugueses já ocorrida no país até então, (o movimento Farroupilha acontece em
1.835) através de grupo armado eclode o que ficaria conhecida como a Rusga
Cuiabana, dentre os considerados como líderes da rusga citamos os alguns
revoltosos: Pascoal Domingues de Miranda; Braz Pereira Mendes; José Jacinto de
Carvalho; Bento Franco de Camargo; José Alves Ribeiro; Euzébio Luis de Brito;
Manoel do Nascimento e Antonio F. Mendes.
Mas, a Rusga foi um movimento de revolta popular
que saiu do controle das lideranças liberais, e que propunha uma mudança nas
estruturas econômicas e políticas. Não era um movimento nacionalista ou
xenófobo, era um movimento em busca da obtenção de independência de poder e
mudança comando do governo.
Na noite de 30 maio de 1834, ao aproximar da meia
noite, oitenta revoltosos instalaram a situação de horror das ruas, e ouviam-se
pelas ruas de Cuiabá os barulhos de machados que arrombavam as portas e gritos
dos portugueses sendo degolados e violentados de maneira cruel e desumana, e
"os rusguentos" levavam como troféu as orelhas dos
"bicudos" mortos.
E para evitar conflitos com a força policial, os
revoltosos tomaram o Quartel dos Guardas Municipal, e assim executavam todos os
inimigos sem confronto e com maior liberdade, durante o acontecimento, sangue
corria em todas as casas de comércio, e ouviam-se gritos de guerras dizendo:
"que morram todos os bicudos" (nome pejorativo dado aos portugueses)
e, na contagem dos mortos não se tem a quantidade exata, para uns tombaram quatrocentos
portugueses, outros dizem que foram duzentos e para outros foram mais de cem.
Após a matança, instalou-se um quadro caótico em
Cuiabá, os revoltosos foram presos e encaminhados para julgamento, e foi
nomeado pelo governo regencial, o nome do Sr. Antonio Pedro de Alencastro, e o
ex-governador provisório, Sr. João Poupino Caldas, antes de embarcar para o Rio
de Janeiro foi assassinado pelas costas por uma bala de prata, ( pois para o
povo cuiabano, ele foi o traidor que entregou os nomes dos líderes, e fazia
parte da tradição cuiabana: "que todos os traidores deveriam ser assassinados
com uma bala de prata").
Durante esse período ocorreram várias revoltas por
todo o país: Cabanada no Pará em 1.832; Rusga em Cuiabá/MT no ano de 1.834;
Farroupilha 1.835 no Rio Grande do Sul, Cabanagem no Pará em 1.837; Sabinada na
Bahia em 1.837 e Balaiada no Maranhão em 1.838, portanto o movimento cuiabano
não foi um fato isolado em Cuiabá, a revolta era geral em todo o país.
Esta crônica tem apenas o sentido de relembrar os
momentos históricos ocorrido em Cuiabá, sem querer ser impositivo ou mesmo
achar que é um texto científico. Nós como cuiabanos temos que ser os porta
vozes da história, são fatos políticos, apesar da violência do movimento, tudo
isso aconteceu aqui, e não tem como esconder ou julgar como algo que dever ser
esquecido ou jogado na lata do lixo, é um relato com a sensibilidade de um
cuiabano que ama esta terra, e sempre estará do outro lado, em posição
diferente daqueles que tentam diminuir os acontecimentos e fatos ocorridos
neste lugar abençoado e reverenciado por todos aqueles que são verdadeiramente
cuiabanos.
Que os outros fiquem sabendo que os nossos
antepassados lutaram por um ideal, que os nossos líderes lutaram para mudança
de Relações Políticos e Sociais, e isso aconteceu exatamente no dia 30 de maio
de 1.834, e importante informar aos desavisados que Cuiabá não começou agora,
por aqui existiram várias etapas da história na construção de uma cidade que já
aproxima dos seus 300 anos, e esses movimentos devem ser sempre
relembrados e comemorados. Que as autoridades instituam "Semana da
Rusga", na forma de apresentações de Peças Teatrais, Show Musical com
apresentação Musicas Regionais e divulgações da Culinária Cuiabana.
Mas, hoje no regime democrático prevalece a vontade
do povo, e vontade da maioria sempre vence, contra os traidores políticos, não
se usa a bala de prata, mas sim o teclado de “ouro” das urnas eletrônicas, as
lutas são no campo ideológico, é através de confrontos de idéias e debates
programáticos que o povo faz a melhor escolha, por isso que prevalece a máxima:
“o povo tem o governo que merece, na democracia a vontade da maioria sempre
vencerá”.
[1] Especialista
em Recursos Humanos e Relações Sociais e Políticas. Fale com o Autor: wilsonfua@gmail.com - Fonte:
http://www.folhamax.com.br/opiniao/rusga-o-grande-movimento-cuiabano/54724
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