Leonardo Boff[1]
Uma metáfora da condição
humana
Era uma vez um camponês que
foi a floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu
pegar um filhote de águia. Coloco-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia
milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos
os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de
um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é
galinha, é uma águia.
- De fato – disse o
camponês. É águia, mas eu criei como galinha.
Ela não é mais uma águia.
Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros
de extensão.
- Não – retrucou o naturalista. Ela é e será
sempre uma águia, pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar
ás alturas.
- Não, não – insistiu o camponês. Ela virou
galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma
prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse: -
já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não a terra,
então abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do
naturalista, olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo,
ciscando grãos, e pulou para junto delas. O camponês comentou:
- Eu lhe disse, ela virou
uma simples galinha!
- Não – tornou a insistir o
naturalista. Ela é uma águia, e uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar
novamente amanhã.
No dia seguinte, o
naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma
águia, abra as suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá
embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à
carga:
- Eu lhe havia dito, ela
virou galinha!
- Não – respondeu firmemente
o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma ultima
vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês
levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das
casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das
montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma
águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor,
tremia como se experimentasse nova vida. Mas não
voou. Então o naturalista
segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem
encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas,
grasnou com o típico kau-kau das águias e ergue-se, soberana, sobre se mesma. E
começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou...
voou... até confundir-se com o azul do firmamento...
E Aggrey terminou conclamando:
- Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos
criados à imagem e semelhança de Deus!
Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós
ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso,
companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos. Voemos como as águias.
Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.
[1] Teólogo
brasileiro, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da
Libertação no Brasil. Foi membro da Ordem dos Frades Menores (franciscanos).
Atualmente dedica-se, sobretudo às questões ambientais. – Fonte: http://www.comdeus.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=415:a-aguia-e-a-galinha&catid=47:artigos-comdeus&Itemid=69
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