Miranda Muniz[1]
Miranda Muniz |
Inconformados com a quarta vitória consecutiva
do povo brasileiro, através da reeleição da presidenta Dilma, a imprensa
hegemônica, alcunhada de PIG – Partido da Imprensa Golpista, fez questão de
estampar na capa de seus principais jornais e nos noticiários de rádio e TV,
pequenas manifestações de caráter golpista tresloucado, ocorridas no dia 1º de
novembro em algumas cidades do Brasil.
A
maior delas teve como palco a Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, centro
do sistema financeiro nacional, e foi composta por “gente diferenciada” tendo
como vedetes o decrépito e transmutado ex-roqueiro Lobão, o deputado Eduardo
Bolsonaro, filho do ultrareacionário e direitista Jair Bolsonaro, e o perito
Ricardo Molina, aquele que trabalhou em casos de repercussão nacional, como a
morte de PC Farias, a Chacina de Eldorado dos Carajás, o crime na Favela Naval,
entre outros. Com posições contrárias à verdade, segundo o deputado Raul Pont,
ele foi também o perito que tentou provar que o casal Nardoni não jogou a filha
pela janela.
As
faixas e cartazes empunhados pela horda golpista de 2,5 pessoas, segundo a PM,
traziam xingamentos de baixo calão à presidenta Dilma, frases de ódio mortal
contra o PT, “auditoria nas urnas”, “impeachment da Presidenta” e “intervenção
militar”.
Após
50 do famigerado Golpe Militar de 64 e 30 anos do início da redemocratização do
país, manifestações com esse caráter golpista e de tamanha virulência contra um
processo eleitoral democrático, parece até coisa de ficção.
No
entanto, não podemos menosprezar a possibilidade desse “ovo de serpente” vir a
eclodir. Isso porque, na geladeira por 30 anos, começa a ser aquecidos por um
discurso de ódio, discriminação e preconceito, o qual encontrou guarida na
campanha do candidato derrotado Aécio Neves, como bem lembrou o cientista político e professor da Fundação
Escola de Sociologia e Política, Aldo Fornazieri. “já durante a campanha
eleitoral de Aécio Neves e o PSDB permitiu que se abrigassem como seus
apoiadores setores golpistas e indivíduos e grupos que manifestaram
preconceitos antinordestinos, homofóbicos, racistas e contra as mulheres.
Elementos intolerantes estimularam a violência física e verbal contra pessoas
que, simplesmente, portavam adesivos de apoio a Dilma. O ódio ao PT foi moeda
corrente na campanha de Aécio. Até mesmo divisionistas se agregaram à campanha,
pregando, ou a independência de São Paulo ou a exclusão do Norte e do Nordeste
do resto do Brasil. Não houve nenhuma condenação dessas manifestações
antidemocráticas e preconceituosas, seja por parte de Aécio, seja por parte do
PSDB.”
O
questionamento extemporâneo da fidedignidade do voto eletrônico, utilizado no
Brasil há quase 2 décadas, pretensão estapafúrdia que o TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) sepultou de plano, ante a sua inconsistência jurídica, é outra
atitude que também serviu para aquecer o “ovo golpista”. O mesmo pode se dizer
da declaração do ministro Gilmar Mendes, quando externou a preocupação
estapafúrdia do STF (Supremo Tribunal Federal) ser transformado numa “corte bolivariana”,
pelo simples fato da presidenta Dilma cumprir o seu dever constitucional de
nomear os ministros daquela Corte, depois de sabatinados e aprovados pelo
Senado Federal. Já o candidato Aécio Neves, seguiu o mesmo diapasão e, em seu
discurso de “quase eleito”, da tribuna do Senado, nenhuma menção de
desaprovação às iniciativas golpistas de seus apoiadores aloprados!
Logicamente,
estamos em outro ambiente político, com uma democracia que vai aperfeiçoando,
mesmo que lentamente. Onde as Forças Armadas têm entendido o seu verdadeiro
papel na construção da democracia e da defesa nacional. Nem mesmo o setor mais
anacrônico, aglutinados em torno do tal Clube Militar, aderiu aos intentos
golpistas e afirmaram que aceitam a vontade das urnas.
Entretanto,
é bom não dá sopa pro azar, afinal, com cobra e com fogo não devemos brincar.
Até porque o que estão colocando em cheque é a democracia, a liberdade. Os 21
anos de Ditadura Militar não fez bem para o país nem para o povo brasileiro,
deixando marcas profundas na memória nacional, como bem lembrou o cineasta e
dramaturgo Rui Guerra “vinte e um anos, para sermos exatos, de arbitrariedades,
ameaças, prisões, censura, torturas, assassinatos, ocultação de corpos das
vítimas, dentes arrancados e dedos decepados, atentados e testemunhos falsos,
subornos, delações, expurgos, sequestros... que mais? Falta, mas qualquer
brasileiro pode acrescentar outras ignomínias, mais torpezas, desmandos. Um
legado de corrupção, ignorância, desigualdade, matraca e mordaça. E um imenso buraco
cultural. A castração sistemática do pensamento criador e político de toda uma
juventude, e não só. Um fosso que vai levar décadas para ser transposto.”
Por
mais que o movimento golpista seja algo desimportante em termos de número de
adeptos envolvidos e mobilizados, o certo é que o mesmo acaba “despertando” os
sentimentos mais reacionários de setores que nunca aceitaram que o povo
brasileiro, em especial a camada que nunca teve vez e voz, passa a desfrutar
dos mesmos espaços nos aeroportos, nos shoppings, nos restaurantes, nos
cinemas, nas universidades, locais antes reservados às elites que comandaram
esse país por mais de 500 anos. Setores recalcitrantes que tem verdadeira
ojeriza à liberdade e à participação das camadas sociais nos destinos do país.
Portanto,
tais ensaios golpistas precisam ser combatidos sem vacilação, explicitando e
denunciando seu caráter obscuro e antidemocrático, em especial para as novas
gerações. E, se esse assanhamento persistir, será preciso mobilizar o povo para
deixar bem claro que não aceitaremos retrocessos e nem a volta daquela “página
infeliz da nossa história”, assim sintetizado pelo cantor e compositor Chico
Buarque, em uma das suas mais contundentes canções de resistência à Ditadura
Militar Fascista e que veio a se transformar numa espécie de hino durante as
jornadas pela democratização do nosso país. A direita e os golpistas
tresloucados pode até desfilar, mas não passarão!
[1] Agrônomo, bacharel em
direito, oficial de justiça avaliador federal, dirigente da CTB-MT (Central dos
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e do PCdoB-MT (Partido comunista do
Brasil). Fonte: http://folhamax.com.br/opiniao/golpistas-tresloucados-nao-passarao/27253
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