Luiz Henrique Lima[1] - Foto: VG Noticias |
Respeito todas as profissões, mas tenho especial admiração e
respeito pelos professores. Na realidade, das múltiplas atividades que
desempenho, a que me dá maior satisfação íntima é quando sou reconhecido por
algum aluno ou ex-aluno e chamado de professor.
Os bons professores influenciam de forma notável a nossa formação,
não apenas formal, no aprendizado das ementas das disciplinas, mas também
intelectual, transmitindo paixão pelo conhecimento, amor pela ciência,
admiração e reconhecimento pelos sábios do passado e do presente e ambição de
desbravar novas fronteiras do saber.
Os bons professores, como ensinava Paulo Freire, são os que têm a
humildade e a simplicidade de estar sempre aprendendo, inclusive com seus
alunos.
Os bons professores transmitem na entonação de sua voz e na
postura corporal o entusiasmo por compartilhar lições e experiências. Sua maior
realização é o sucesso de seus discípulos.
Os bons professores são exemplos inesquecíveis de conduta, modelos
que nos inspiram ao longo de toda a nossa trajetória profissional.
Por tudo isso, considero deprimente a situação de desvalorização
social dos professores em nosso país. Recentemente escrevi que em minha opinião
professores deveriam ser tão bem remunerados como juízes ou fiscais de
tributos. Fui muito criticado. Um dos argumentos mais fortes é que existem mais
de cem professores para cada juiz ou fiscal, o que tornaria minha proposta
irresponsável em termos de finanças públicas.Em tal perspectiva, como são a
categoria mais numerosa do serviço público, os professores estariam condenados
a vencimentos de subsistência, cabendo-lhes suportar o maior ônus para o
equilíbrio fiscal.
De certa forma, tais críticos reproduzem o paradoxo da água e do
diamante, conhecido na escola econômica neoclássica. Como na Terra, a água é
substância abundante e o diamante escassa, o valor monetário deste é muito
superior ao da água. O paradoxo é que a água é absolutamente essencial à vida
humana, animal e vegetal, enquanto o diamante é uma pedra supérflua, de
limitada utilidade em alguns equipamentos industriais.
Como a água, os professores são essenciais na mais sensível etapa
da vida das pessoas: a infância e a juventude. Como a água pelos economistas
neoclássicos, não têm o seu valor reconhecido pela sociedade e pelos dirigentes.
A baixa remuneração tem afastado das salas de aula muitos dos
melhores professores, que vão empregar seu talento em outras atividades. Entre
os melhores estudantes, poucos se dispõem a optar por uma carreira em que
frequentemente as privações financeiras ultrapassam o sentimento de realização
profissional. Conheço diversos que, somente após assegurar algum conforto
econômico para suas famílias em outras atividades, retornam ao magistério, já
na meia idade ou aposentados, para suprir uma lacuna existencial. E pergunto:
qual o custo disso para o país? Qual o custo de privarmos nossas crianças e
jovens de estudarem com os mais talentosos, capacitados e vocacionados? Não é
preciso ir longe. Todos os rankings internacionais de educação relegam o Brasil
a posições vexaminosas, entre as últimas do planeta, tanto no ensino
fundamental, como no médio e no superior. Qual o custo da má qualidade do
ensino e de gerações de brasileiros que após anos de escolaridade mal dominam
os rudimentos do idioma e das operações aritméticas? Posso me equivocar, mas
tenho convicção de que esse custo é bem maior do que o de remunerar dignamente
os professores.
Sei que meu sonho não é alcançável em curto prazo. É necessário um
processo progressivo e sustentável de reforma das estruturas estatais. Também
sei que ele só será viável se antes houver uma revolução mental, colocando a
educação de qualidade como prioridade máxima para o progresso humano. A nova
economia ecológica dá mais valor à água que aos diamantes. Em breve futuro, irresponsável
não será pagar bem aos professores, mas não saber valorizar a educação.
[1] Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT. Graduado em Ciências
Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em
Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. Fonte: http://vgnoticias.com.br/2012/noticias/Ver/9387/professores
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