Frei Betto[1]
O Brasil ainda é um país de contrastes. Com população de 192 milhões de
habitantes (dos quais 30 milhões na zona rural, onde predomina o latifúndio com
grandes extensões de terras improdutivas), apenas 6,6 milhões de brasileiros se
encontram na universidade. E dos 92 milhões de trabalhadores, quase a metade
não tem carteira assinada.
Temos a maior área fundiária da América Latina e nunca se fez aqui uma
reforma agrária. Somos o principal exportador de carne e temos a segunda maior
frota de helicópteros das Américas, e convivemos com a miséria de 16 milhões de
habitantes (dos quais 40% têm até 14 anos de idade e 71% são negros e pardos).
Embora 65% da renda nacional se concentre em mãos de apenas 10% da população, o país experimenta sensíveis melhoras nesses primeiros anos do século XXI. Graças aos programas sociais dos governos Lula e Dilma, 30 milhões de pessoas deixaram a miséria.
Embora 65% da renda nacional se concentre em mãos de apenas 10% da população, o país experimenta sensíveis melhoras nesses primeiros anos do século XXI. Graças aos programas sociais dos governos Lula e Dilma, 30 milhões de pessoas deixaram a miséria.
No entanto, 4 milhões de menores de 14 anos de idade ainda se encontram
fora da escola e submetidos a trabalhos indignos. Cinco milhões de agricultores
sem-terra se abrigam em precários acampamentos à beira de estradas ou habitam
assentamentos com baixo índice de produtividade.
Há cerca de 25 mil pessoas submetidas ao trabalho escravo, sobretudo nos
estados da Amazônia, cujo desmatamento, provocado pelo agronegócio e a
exploração predatória feita por empresas mineradoras, não cessa de despir a
floresta de sua exuberância natural.
Na ponta mais estreita da pirâmide social, os brasileiros gastam, em
viagens no exterior, US$ 1,8 bilhão por mês!
Como a economia brasileira está ancorada principalmente na exportação de
commodities, a crise financeira mundial reduz progressivamente as encomendas,
tornando pífio o crescimento do PIB, previsto este ano para 1,2%.
O sistema de saúde pública é precário e somente neste ano os deputados
federais propuseram dobrar para 10% do PIB o investimento federal em educação.
Convivemos com 13,6% de adultos analfabetos literais e 29% de adultos
analfabetos funcionais (sabem ler e assinar o nome, mas são incapazes de
escrever uma carta sem erros ou interpretar um texto).
O poder público brasileiro, com raras exceções, é avesso à cultura. O
orçamento 2012 do Ministério da Cultura é de apenas R$ 5 bilhões (o PIB atual
do Brasil é de R$ 4,7 trilhões).
Agora o nosso horizonte de felicidade se coloca na Copa das
Confederações em 2013, na Copa do Mundo em 2014 e nas Olimpíadas do Rio de
Janeiro, em 2016.
Como o nosso país estará no centro das atenções mundiais, o governo
apressa obras, reforma estádios, aprimora a infraestrutura e promete festas que
nos farão esquecer que ainda somos, socialmente, uma das nações mais desiguais
do mundo.
[1] Escritor, autor do
romance "Minas do Ouro" (Rocco), entre outros livros. Fonte: www.freibetto.org
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