quinta-feira, 22 de novembro de 2012

15 de novembro, proclamação do feriado


Carlos Roberto Marques[1]

Nós, no curso primário, não entendíamos bem o que era isso, mas tínhamos de cor a resposta: "Quem proclamou a República foi Marechal Deodoro da Fonseca, no dia 15 de novembro de 1889". Ensinaram-nos que, com a proclamação da República, encerrou-se o período do Império.
Dom Pedro II teve que sair às pressas do Brasil com toda sua família. A partir daí, o povo escolheria seus governantes. No início, o voto não era secreto e eram as classes dominantes quem indicavam os candidatos. Portanto, além de não ter muitas opções, o eleitor era facilmente manipulado.
Com o enfraquecimento da Monarquia e o desgaste político de Dom Pedro II, a insatisfação de influentes grupos, da própria Igreja, das elites agrárias e dos militares, fortaleceu o movimento republicano, que ganhou ainda o apoio da classe média. Com esse respaldo, Deodoro demitiu o Conselho de Ministros, proclamou a República e assumiu o governo na condição de presidente do Brasil. Depois dele, a presidência foi ocupada por militares e representantes das oligarquias mineiras e paulistas, até o golpe de 1930, quando assumiu Getúlio Vargas, populista e fazendeiro da pecuária e filho de general.
A república quase democrática
Depois disso veio o voto secreto, o voto feminino, o pluripartidarismo. E quando pensávamos ter, em 1961, colocado na presidência um legítimo representante das camadas populares, que fazia campanha com uma vassoura e um quepe de motorista da antiga CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos da cidade de São Paulo), vieram novamente os militares e voltamos à estaca zero. Ao elegermos um metalúrgico, confesso que temi uma reprise do velho filme. E esse processo do mensalão, ainda em curso, permite-nos perceber que muitos dos benefícios da República são partilhados entre as oligarquias e aqueles que chegam ao poder.
Das capitanias hereditárias aos latifúndios
Assim como os reis europeus concediam terras aos seus vassalos, em regime feudal, Portugal aqui cedeu aos amigos do rei as capitanias hereditárias: enormes faixas de terra, que recebiam de graça, para defender, administrar e explorar; e eram transmitidas por herança, de pai para filho. Vêm daí os grandes latifúndios e o império dos coronéis, de grande influência política, a qualquer preço. A terra, tomada dos nativos, ficou concentrada nas mãos de muito poucos. O nome República vem do latim res publica, que significa coisa pública.
A verdadeira "proclamação da república" foi feita pelo próprio Criador, ao término de sua obra, quando transmitiu ao homem o uso e gozo de toda criação (Gn 1, 28-29). Esta, efetivamente, legitima os movimentos dos excluídos, em favor dos quais muitos já se fizeram mártires, entre eles inúmeros missionários e missionárias, já que, para o povo, o povão, res publica são apenas as periferias, os morros, as praças públicas e os baixos de viadutos, e muitas vezes nem isso... Dessa proclamação de Deodoro, o pobre só aproveita mesmo o feriado.

[1] Leigo Missionário da Consolata e membro da Equipe de Redação. Fonte: Carlos Roberto Marques / http://www.revistamissoes.org.br/artigos/ler/id/2503 

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