Carlos Roberto Marques[1]
Nós, no
curso primário, não entendíamos bem o que era isso, mas tínhamos de cor a
resposta: "Quem proclamou a República foi Marechal Deodoro da Fonseca, no
dia 15 de novembro de 1889". Ensinaram-nos que, com a proclamação da
República, encerrou-se o período do Império.
Dom Pedro
II teve que sair às pressas do Brasil com toda sua família. A partir daí, o
povo escolheria seus governantes. No início, o voto não era secreto e eram as
classes dominantes quem indicavam os candidatos. Portanto, além de não ter
muitas opções, o eleitor era facilmente manipulado.
Com o
enfraquecimento da Monarquia e o desgaste político de Dom Pedro II, a
insatisfação de influentes grupos, da própria Igreja, das elites agrárias e dos
militares, fortaleceu o movimento republicano, que ganhou ainda o apoio da
classe média. Com esse respaldo, Deodoro demitiu o Conselho de Ministros,
proclamou a República e assumiu o governo na condição de presidente do Brasil.
Depois dele, a presidência foi ocupada por militares e representantes das
oligarquias mineiras e paulistas, até o golpe de 1930, quando assumiu Getúlio
Vargas, populista e fazendeiro da pecuária e filho de general.
A
república quase democrática
Depois
disso veio o voto secreto, o voto feminino, o pluripartidarismo. E quando
pensávamos ter, em 1961, colocado na presidência um legítimo representante das
camadas populares, que fazia campanha com uma vassoura e um quepe de motorista
da antiga CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos da cidade de São
Paulo), vieram novamente os militares e voltamos à estaca zero. Ao elegermos um
metalúrgico, confesso que temi uma reprise do velho filme. E esse processo do
mensalão, ainda em curso, permite-nos perceber que muitos dos benefícios da
República são partilhados entre as oligarquias e aqueles que chegam ao poder.
Das
capitanias hereditárias aos latifúndios
Assim
como os reis europeus concediam terras aos seus vassalos, em regime feudal,
Portugal aqui cedeu aos amigos do rei as capitanias hereditárias: enormes faixas
de terra, que recebiam de graça, para defender, administrar e explorar; e eram
transmitidas por herança, de pai para filho. Vêm daí os grandes latifúndios e o
império dos coronéis, de grande influência política, a qualquer preço. A terra,
tomada dos nativos, ficou concentrada nas mãos de muito poucos. O nome
República vem do latim res publica, que significa coisa pública.
A
verdadeira "proclamação da república" foi feita pelo próprio Criador,
ao término de sua obra, quando transmitiu ao homem o uso e gozo de toda criação
(Gn 1, 28-29). Esta, efetivamente, legitima os movimentos dos excluídos, em
favor dos quais muitos já se fizeram mártires, entre eles inúmeros missionários
e missionárias, já que, para o povo, o povão, res publica são apenas as
periferias, os morros, as praças públicas e os baixos de viadutos, e muitas
vezes nem isso... Dessa proclamação de Deodoro, o pobre só aproveita mesmo o
feriado.
[1] Leigo
Missionário da Consolata e membro da Equipe de Redação. Fonte: Carlos Roberto Marques /
http://www.revistamissoes.org.br/artigos/ler/id/2503
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