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Um espaço
de crítica aos rumos que a Rio+20 está tomando, mas também de busca de
alternativas. Assim a ativista Fátima Mello define a Cúpula dos Povos, evento
paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.
Coordenadora
do evento, que reúne ONGs brasileiras e estrangeiras, ela critica o conceito de
economia verde e a abertura do documento da ONU ao papel das grandes
corporações na provisão de serviços globais. Mas defende a manutenção do
princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas nas negociações sobre
mudanças climáticas. "Acreditamos que os países responsáveis pelas
emissões históricas mais elevadas têm maior responsabilidade, mas o texto da
ONU tende a esvaziar esse principio", alerta.
A
entrevista é de Guilherme Serodio e publicada pelo jornal Valor, 12-06-2012.
Eis a
entrevista.
Como a
Cúpula dos Povos se articula com a Rio+20?
O grande
problema da Rio+20 é a tendência à privatização dos regimes, convenções e
tratados internacionais no âmbito da ONU. Todas as conquistas que obtivemos
desde a Rio92 correm o risco de se perder. Queremos que a conferência
implemente essas conquistas e avanços em relação à garantia de direitos,
justiça social e ambiental. Mas o que vemos é retrocesso e uma captura do
sistema ONU pelas grandes corporações. Vemos que o texto da ONU tem armadilhas.
Fala em "garantias de acesso" aos serviços através do Estado, mas
cita parcerias público-privadas, abrindo espaço para as multinacionais se
apoderarem deles. E, nesse caso, muitas pessoas não terão como pagar.
Como a
sra. avalia o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas?
É muito
importante pois rege as negociações sobre mudanças climáticas, em que os países
responsáveis pelas emissões históricas mais elevadas têm maior
responsabilidade. Mas o texto da ONU tende a esvaziá-lo.
Isso é um
risco muito grande porque um país como Ruanda não pode arcar com os custos de
uma transição tecnológica. Mesmo porque não tem a mesma responsabilidade pela
crise ambiental que Estados Unidos. O Brasil tem se posicionado em relação a
isso. Os países do norte têm hoje suas economias baseadas em serviço e têm mais
facilidade para fazer a transição para a economia de baixo carbono.
A crise
global pode atrapalhar nas negociações sobre clima e sustentabilidade?
A crise
global é um dos motivos das resistências para se avançar nas negociações de
clima e em relação ao acordo global. O horizonte dos países desenvolvidos
passou para o curtíssimo prazo. Já os emergentes querem manter as taxas de
crescimento, não querem frear o consumo e resistem a compromissos para uma
transição a outro modelo de produção e consumo. A conferência se realiza em um
cenário desfavorável a compromissos mais profundos.
Caminha-se
na direção de soluções simplificadoras, como a chamada economia verde.
Quais são
as suas criticas à economia verde?
Assim
como a Rio92 legitimou a ideia de desenvolvimento sustentável, que hoje caiu no
vazio [porque cada um se apropria do jeito que entende], o conceito de economia
verde corre o risco de legitimar a continuidade do atual modelo de produção e
de consumo.
Somos a
favor da transição para a economia de baixo carbono. Mas a fórmula que a
conferência oficial oferece para isso é extremamente perigosa, pois não
questiona quem ganha e quem perde.
E as
bolsas verdes?
Se
olharmos o relatório do Pnuma e o texto em negociação, é muito forte a ideia de
se criar um mercado financeiro para os recursos da natureza. Já existem bolsas
[de valores] verdes que precificam o ar e criam créditos de carbono, o chamado
mercado de carbono. Isso, para nós, é falsa solução. O que estamos observando é
que o mercado de carbono pode atuar contra os direitos das populações
tradicionais. É uma armadilha.
Fonte: www.ihuonline.unisinos.br
Mais informações:
http://www.revistamissoes.org.br/noticias/ler/id/5391
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