Ecce Homo é a mais poética — e mais grandiosa — dentre as obras dedicadas ao egocentrismo humano, é também a mais singular das autobiografias que o mundo um dia conheceu.
Friedrich Nietzsche (1844-1900)
Sobre a ponte eu estava,
Há dias, na noite cinzenta
Ao longe ouvi uma canção:
Ela pingava gotas de ouro.
Pela superfície trêmula
Gôndolas, luzes, música -
Ébria ela nadou para a escuridão…
Minha alma, um alaúde,
cantou a si, invisível e ferida,
uma canção veneziana, e segredou,
trêmula de ventura colorida.
Será que alguém a escutou?
Há dias, na noite cinzenta
Ao longe ouvi uma canção:
Ela pingava gotas de ouro.
Pela superfície trêmula
Gôndolas, luzes, música -
Ébria ela nadou para a escuridão…
Minha alma, um alaúde,
cantou a si, invisível e ferida,
uma canção veneziana, e segredou,
trêmula de ventura colorida.
Será que alguém a escutou?
Nietzsche era um romântico. Mais tarde seria considerado um divisor de águas na filosofia. São várias as classificações à Nietzsche, Martir Heidegger, por sua vez o identificou como o último dos filósofos metafísicos e colocou o divisor de águas em si mesmo, dizendo ter sido ele o primeiro filósofo não-metafísico da história da filosofia ocidental.
Max Weber, de sua parte disse: “O mundo onde nós existimos em termos de pensamento é um mundo cunhado pelas figuras de Marx e Nietzsche.”
É fato que Nietzsche foi um dos mais importantes pensadores alemães de todos os tempos e estendeu a área de suas influências para muito além da filosofia, adentrando a literatura, a poesia, e todos os âmbitos das belas-artes. Influenciou movimentos que vão do naturalismo alemão ao modernismo, e escritores tão diferentes quanto Heinrich e Thomas Mann. Com sua obra quebradiça e aparentemente fragmentária, que no fundo adquire uma vitalidade orgânica que lhe dá unidade através do aforismo. Nietzsche mostrou, desde o início, que todo artista genuíno tem, de uma maneira ou de outra, conspurcar o próprio ninho. E Nietzsche, que nasceu cercado de moral por todos os lados, fez da moral o alvo de seus combates e considerou sua guerra pessoal contra ela sua maior vitória.
Nietzsche viveu sobre a navalha da interpretação. Mal interpretado como filósofo, já em função de seu estilo poético, já devido à exploração de certos aspectos de seu pensamento – mal versados pela irmã e pelo nazismo – Nietzsche foi, na realidade, um dos críticos mais ferozes da religião, da moral e da tradição filosófica do Ocidente.
Mas, sem dúvida, Nietzsche é o maior dos pensadores ocidentais para mim, e muitos fazem coro comigo. Mesmo grandes pensadores e escritores célebres apontam Nietzsche como o maior dos pensadores de todos os tempos.
Trechos do Livro Ecce Homo
Por Nietzsche – sua postura irrespondível e incontestável:
“O que foi que aconteceu comigo? Como foi que me salvei do asco? O que foi que rejuvenesceu meu olho? Como foi que alcancei as alturas nas quais não há mais gentalha sentada junto a fonte?
Foi o próprio asco que me deu asas e forças capazes de pressentir as fontes? De verdade, eu tive que voar ao lugar mais alto para poder reencontrar a nascente do prazer!
Ah, eu a encontrei, meus irmãos! Aqui, no lugar mais alto, a nascente do prazer jorra sobre mim! E há uma vida na qual não há gentalha nenhuma bebendo junto!”
Por que eu sou tão inteligente?
Por que eu sei algo mais? Por que, acima de tudo, eu sou tão inteligente? Jamais me pus a pensar a respeito de perguntas que não são perguntas – eu não me esbanjei… Dificuldades religiosas de verdade, por exemplo, eu jamais as conheci por minha própria experiência. Sequer me dei conta até que ponto eu deveria me sentir “pecaminoso”. Do mesmo modo me falta um critério confiável para saber o que é um sentimento de culpa: segundo aquilo que se ouve a respeito, um sentimento de culpa não me parece nada digno de atenção…
[...]“Deus”, “imortalidade da alma”, “salvação”, “além” são coisas para as quais nunca dediquei atenção, nem mesmo, inclusive, quando era criança – talvez eu jamais tenha sido criança o suficiente para tanto… Estou longe de conhecer o ateísmo na condição de resultado, menos ainda como acontecimento: em mim, o ateísmo é compreensível na qualidade de instinto. Sou curioso demais para aceitar uma resposta esbofeteada. Deus é uma resposta esbofeteada e grosseira, uma indelicadeza contra nós, os pensadores [...]
Friedrich Nietzsche influencia até hoje, nesta vanguarda, onde percebemos que muitos conceitos já se foram, e hoje, mais do que nunca, teremos que pensar em suas palavras… essa filosofia misturada com poesia e sangue, calcada na terra, que é o lugar onde existimos e de onde teremos que viver nossas próprias experiências e tirarmos nossas próprias conclusões.
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu numa família luterana em 15 de outubro de 1844, filho de Karl Ludwig, seus dois avós eram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor. Entretanto, Nietzsche rejeita a "fé" (religião/crença religiosa) durante sua adolescência, e os seus estudos de filosofia afastam-no da carreira teológica. Iniciou seus estudos no semestre de Inverno de 1864-1865 na Universidade de Bonn em Filologia clássica e Teologia evangélica.
Fonte: http://www.lendo.org/ecce-homo-nietzche-muito-alem-da-filosofia
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