Luiz Henrique Lima[1]
Enganam-se aqueles que pensam poder desqualificar a ativista sueca Greta
Thumberg
Luiz Henrique Lima |
Enganam-se aqueles que pensam poder sufocar o
debate sobre o agravamento da crise climática simplesmente agredindo ou tentando
desqualificar a sua mais conhecida porta-voz, a ativista sueca Greta Thumberg.
Foi o que tentou fazer o poderoso Secretário do Tesouro dos Estados Unidos,
Steven Mnuchin, durante pronunciamento no Fórum Econômico Mundial em Davos. Não
deu certo.
Sua fala foi rechaçada não apenas pela opinião
pública mundial, mas também pelas principais lideranças políticas e
empresariais presentes ao encontro, a começar pela respeitada chanceler Angela
Merkel que, mesmo representando um pensamento conservador, reconheceu a
gravidade e a urgência do tema das mudanças climáticas e a importância do
movimento de conscientização e protesto que mobiliza milhões de jovens em todos
os continentes.
Para usar um termo desgastado, mas que no
caso se aplica perfeitamente, o movimento Fridays for Future viralizou. A cada
semana, ocorrem centenas de manifestações em dezenas de países. Algumas reúnem
um punhado de estudantes, outras envolvem milhares de pessoas de todas as
gerações. Embora Greta tenha sido a pioneira em 2018, nada teria essa duração e
essa dimensão se o problema não fosse real e se as suas prováveis consequências
não representassem uma grave ameaça global para as próximas gerações.
Toda a comunidade científica internacional utiliza
como referência para esse debate os relatórios elaborados pelo IPCC – Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, organização criada em 1988 por
iniciativa da Organização Meteorológica Mundial e do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente.
“Enganam-se
aqueles que pensam poder sufocar o debate sobre o agravamento da crise
climática simplesmente agredindo ou tentando desqualificar a sua mais conhecida
porta-voz, a ativista sueca Greta Thumberg”
Cada relatório do IPCC demanda anos de trabalhos e
discussões envolvendo centenas de cientistas das mais variadas especialidades
(oceanógrafos, geógrafos, geólogos, físicos, epidemiologistas, biólogos,
economistas etc.) e antes de ser divulgado é submetido a rigorosas avaliações
independentes.
É com base nos diversos cenários apresentados pelo
IPCC que se construíram os acordos internacionais, com destaque para a
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, assinada no Rio de
Janeiro em 1992, o Protocolo de Quioto de 1997 e o Acordo de Paris de 2016.
Diversos países elaboraram seus próprios estudos e
levantamentos sobre os efeitos das mudanças climáticas. Um dos principais foi o
Relatório Stern, coordenado pelo economista-chefe do Banco Mundial por
solicitação do governo britânico. Nele ficou demonstrado que o custo de não
enfrentar as mudanças climáticas é várias vezes superior ao custo de medidas de
prevenção e mitigação.
No Brasil, trabalho conduzido por pesquisadores da
USP, Unicamp, UFRJ, Embrapa e Fiocruz concluiu que o país poderá perder até
2050 cerca de R$ 3,6 trilhões em razão dos impactos provocados pelas mudanças
climáticas. Um conjunto de auditorias operacionais do TCU apontou riscos muito
graves não apenas para a Amazônia, mas para o agronegócio, o Semiárido e as
zonas costeiras.
Em suma, goste-se ou não da imagem e das falas da
jovem Greta, que uma irritada autoridade denominou pirralha, o fato é que a
causa que ela abraçou diz respeito a um problema real e de máxima importância
para todos. Não é à toa que essa foi uma das principais, senão a maior, pauta
do Fórum Econômico Mundial de 2020.
Ainda esta semana a maior gestora de fundos de
investimentos do planeta, a BlackRock, responsável por uma carteira de 7
trilhões de dólares, anunciou em carta ao mercado que a sustentabilidade será o
centro de sua estratégia de investimentos. Centenas de líderes empresariais
estão assumindo compromissos neste sentido.
A economia mundial está mudando, não por bondade ou
boa vontade, mas por necessidade. Há nisso enormes oportunidades para países e
regiões com fartura de biodiversidade, recursos hídricos e florestais, e
potencial de geração de energia solar e eólica.
Enquanto isso, a maior autoridade brasileira
presente em Davos notabilizou-se pela bizarra afirmação de que a destruição
ambiental é provocada pelos pobres...
[1]
Auditor Substituto
de Conselheiro do TCE-MT - Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em
Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação
e Pesquisa de Engenharia.
Fonte: https://www.midianews.com.br/opiniao/muito-alem-de-uma-pirralha/368580
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