quinta-feira, 19 de abril de 2012

Adolescentes e suas entrelinhas


Graciele Girardello1

Esta semana ouvi novamente alguém se referir a um adolescente como "aborrecente". Sempre que isso acontece fico um pouco intrigada, me questionando se a pessoa que se refere a essa fase tão especial da vida com essa palavra sabe o turbilhão de emoções e dificuldades que esse "serzinho" está passando. Sabemos que temos na verdade duas gerações nesta fase que são: geração Tween e geração Carona, sendo o primeiro muito chegado ao consumismo (que deve ser limitado) e o segundo que continua dependendo dos pais mesmo depois de adultos. Uma das características dos adolescentes de hoje é que adoram a escola, "mas as aulas atrapalham".
Acredito ainda que para esses jovens as fases são confusas, como na puberdade (cerca dos 9 anos para elas e os 11 para eles, em média). Os meninos se perdem mais, gerando a síndrome da 5ª e/ou 7ª série. Os jovens na puberdade (elas a menarca, eles a semenarca) tendem a ser onipotentes: podem tudo e sabem tudo. O jovem adolescente masculino tem atração pela pornografia e se preocupa com o próprio sexo, enquanto que as meninas são mais tranqüilas. Mas ambos geralmente não aceitam ajuda. A confusão é maior na fase do "estirão", quando o corpo se desenvolve rapidamente, gerando angústia e timidez.Comparo as mulheres ao polvo (conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo) e os homens a cobra (concentram-se mais numa coisa), mas considero a idade do estirão como idade do sapo, quando se sentem feios e sabichões (mas imaturos).
É um período de organização do cérebro, ideal para a aprendizagem, principalmente das línguas. O conflito é presente, entre o mundo interno e o externo: Penso (sinto e ajo), logo existo.
É importante lembrar que a agressividade engolida pode ser transformada em depressão, como ocorre com as mães. E não devemos engolir sapos!
Os filhos costumam ser Euista (não apenas egoísta) que vêem apenas o próprio Eu, e as mães Outroista (mais que altruísta) onde vêem apenas eles.
O aqui e agora dos jovens são expandidos, condicionando o agora ao passado e ao ES futuro, às vezes chantageando os pais.
Para conseguir o equilíbrio necessário, devemos ser preocupados com os principais valores (superiores) da vida:
1 - Amor, sob todas as formas;
2 - Gratidão, reconhecendo os benefícios recebidos;
3 - Cidadania, sendo responsável;
4 - Religiosidade, procurando uns aos outros;
5 - Disciplina, como qualidade de vida e convivência;
6 - Solidariedade, para poder compartilhar;
7 – Ética, o que é bom pra você, é bom para o outro.
Quase todos os jovens pensam em poder, dinheiro e fama, produtos de ações progressivas: o primeiro acaba com a idade, o segundo passa sempre de mão em mão, e a fama é efêmera. Por isso eles devem ser educados a pensar nos 7 valores superiores. Nas famílias costumam conviver os "folgados" e os "sufocados", onde os jovens não querem fazer nada e obter tudo, e os pais sentem-se sufocados para atendê-los... Algumas fases, como passar no vestibular ou possuir o primeiro carro, tornam-no ainda mais folgados, aumentando sua onipotência. A bebida, a droga e a paixão também contribuem para isso. Sobre o problema das drogas, Içami Tiba (autor do livro Quem Ama Educa) lembra os tipos de pais diante disto: Os crédulos, os desafiados, os autoritários, os sempre certos, os perdidos, os ocupados e os descontrolados. Todos "pais problemas" diante de "filhos problemas".
A onipotência dos filhos é alimentada pela apologia do prazer gerada pelos pais: sacrificam-se para contentá-los. Não! Os sacrifícios devem ser de ambos. A pedra filosofal do relacionamento humano: ser progressivo.
Progressivo: ajudar quem está abaixo, associar-se com quem está ao lado, admirar quem está acima. Ou acaba sendo retrógrado. O relacionamento passa por um filtro: separa semelhantes dos diferentes e conhecidos dos desconhecidos.
Os jovens muitas vezes se perdem nos devaneios em vez de sonhos, quando não existe projeto. Seus sonhos são projetos de empreendedor e não de esperador, e a família deve funcionar como uma grande equipe. Os pais devem saber separar o amor dadivoso (como quando se dedicam ao bebê) do amor construtivo, amor que ensina e que exige. Devem saber separar o essencial do supérfluo, procurando negociar e regulamentar as ações com os filhos. Não aceitar a tirania destes. Evitar o assédio moral deles, que às vezes chantageiam para conseguirem as coisas. O amor deve ser de retribuição, onde um ajuda o outro, principalmente os filhos adultos ajudando os pais idosos. Os pais muito ocupados devem aprender a fazer sempre uns "pit-stops" para atender os filhos com certa freqüência. Lembrar que certas coisas não se negociam como o estudo, a higiene, a honestidade.
Quanto ao estudo, Tiba enfatiza que não se aprende com quem não se respeita. Pais e professores devem conseguir ser respeitados. Estudos maçantes e professores chatos não se comparam com chefes exigentes. É preciso delegar tarefas e cobrá-los para discipliná-los.
Resumindo: os pais devem estar presentes com os filhos, dialogar, buscar o equilíbrio, evitando que estes sejam folgados e que o tornem sufocados, dando exemplo de cidadania e ética. Não engolir sapos, mas não impedir que sonhem. Pais respeitados porque tem autoridade e não são autoritários. Os omissos serão desprezados.
Fonte: Caderno Opinião Jornal A Gazeta - Edição 6683 – Cuiabá – MT- Brasil 
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1 Neuropsicóloga e escreve aos sábados para A Gazeta. E-mail: g.girardello@terra.com.br

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