O menino Henry, o Genocídio e o Aborto
Luiz Henrique Lima[1]
A morte do menino Henry Borel, de 4
anos, após sofrer seguidos episódios de violência doméstica, comoveu a imensa
maioria dos brasileiros. Espancar até a morte uma criança indefesa é ato de
extrema crueldade, agravada por ter ocorrido no ambiente familiar que deveria
ser a sua maior proteção.Luiz Henrique Lima
As circunstâncias do crime são macabras e envolvem
desde o principal acusado - um parlamentar carioca, fervoroso adepto de causas
direitistas, membro do Conselho de Ética e candidato a uma vaga de conselheiro
no Tribunal de Contas local – dizendo, após a cerimônia de sepultamento, para o
pai do menino “virar a página e fazer outro filho”, até a mãe da criança,
também acusada de cumplicidade, posando para selfies glamorosas na delegacia
onde prestou depoimento.
A violência
familiar contra crianças, embora ainda frequente, recebe o repúdio generalizado
de todos os segmentos da sociedade, independentemente de crenças ou convicções.
O mesmo, todavia, não ocorre em duas outras situações.
A primeira, quando
as vítimas são crianças e adolescentes de pele negra moradores das periferias
mais pobres atingidos por balas de fuzil ou similares, usualmente noticiadas
como “balas perdidas”, disparadas por traficantes, milicianos ou forças de
segurança. Tais mortes, muitos milhares anualmente, não despertam a mesma
intensidade de indignação ou revolta, ainda que ocorram quando as crianças
estavam brincando dentro de casa ou no caminho para a escola.
Muitos as encaram
com um certo conformismo, como se componentes inevitáveis da normalidade da
vida nas favelas e bairros carentes. Outros não hesitam em colocar as vítimas
no rol de suspeitos de alguma transgressão, como empinar pipas sobre a laje de
um barraco, e, de certa forma, merecedoras da execução sumária que sofreram. Há
até aqueles que justificam chacinas e comemoram o “cancelamento de CPFs”. Em
outros artigos, já denunciei o genocídio de jovens e crianças negras que se
perpetra impunemente há décadas no Brasil.
“A tristeza com a morte desse menino
deveria nos inspirar a nos posicionarmos também contra essas outras duas formas
de violência que atingem as crianças em nosso país”
A segunda, quando
as vítimas são as crianças ainda não nascidas e que não dispõem sequer de um
nome ou retrato para ilustrar o noticiário. São as centenas de milhares de
vítimas anuais de abortos provocados para interromper uma gestação.
Os principais métodos
para induzir um aborto são a aspiração e a ingestão de remédios que provocam
contrações na gestante. Em ambos os processos, os tecidos e órgãos do feto são
dilacerados e são arrancados do útero por uma força externa, irresistível e
implacável. A crueldade e a violência praticadas contra esses pequeninos
humanos em processo de desenvolvimento nada deixa a dever aos socos e pontapés
que tiraram a vida do menino Henry.
A tragédia do
menino Henry, como a da menina Isabela Nardoni há alguns anos, chocou de modo
extremo porque ocorreu dentro do seu próprio lar, supostamente o seu refúgio
mais seguro contra a violência do mundo externo. O que dizer então da violência
abortiva praticada no ventre materno que deveria abrigar e nutrir o filho em
gestação? Cada criança abortada sofreu dor e martírio semelhantes aos do menino
Henry e a responsabilidade de seus algozes também está naqueles que praticaram
os abortos.
A tristeza com a
morte desse menino deveria nos inspirar a nos posicionarmos também contra essas
outras duas formas de violência que atingem as crianças em nosso país.
Dedico o artigo de
hoje, neste domingo em que se celebra o Dia das Mães, a todas as leitoras que
são mães e às mães de todos os leitores. Dedico-o tanto às mães que ainda nos
cuidam de perto quanto às mães que nos protegem lá de onde estão na pátria
espiritual. E também, carinhosamente, dedico-o àquelas que se tornaram mães por
adoção e provam todos os dias que o vínculo do amor é que define a maternidade
e que o amor sempre há de vencer. Muito obrigado mamães!
[1] Luiz Henrique Lima é Auditor Substituto de Conselheiro do
TCE-MT – Fonte: https://www.rdnews.com.br/artigos/o-menino-henry-o-genocidio-e-o-aborto/144022