domingo, 9 de maio de 2021

 

O menino Henry, o Genocídio e o Aborto

Luiz Henrique Lima[1]

Luiz Henrique Lima
A morte do menino Henry Borel, de 4 anos, após sofrer seguidos episódios de violência doméstica, comoveu a imensa maioria dos brasileiros. Espancar até a morte uma criança indefesa é ato de extrema crueldade, agravada por ter ocorrido no ambiente familiar que deveria ser a sua maior proteção.

As circunstâncias do crime são macabras e envolvem desde o principal acusado - um parlamentar carioca, fervoroso adepto de causas direitistas, membro do Conselho de Ética e candidato a uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas local – dizendo, após a cerimônia de sepultamento, para o pai do menino “virar a página e fazer outro filho”, até a mãe da criança, também acusada de cumplicidade, posando para selfies glamorosas na delegacia onde prestou depoimento.

A violência familiar contra crianças, embora ainda frequente, recebe o repúdio generalizado de todos os segmentos da sociedade, independentemente de crenças ou convicções. O mesmo, todavia, não ocorre em duas outras situações. 

A primeira, quando as vítimas são crianças e adolescentes de pele negra moradores das periferias mais pobres atingidos por balas de fuzil ou similares, usualmente noticiadas como “balas perdidas”, disparadas por traficantes, milicianos ou forças de segurança. Tais mortes, muitos milhares anualmente, não despertam a mesma intensidade de indignação ou revolta, ainda que ocorram quando as crianças estavam brincando dentro de casa ou no caminho para a escola.

Muitos as encaram com um certo conformismo, como se componentes inevitáveis da normalidade da vida nas favelas e bairros carentes. Outros não hesitam em colocar as vítimas no rol de suspeitos de alguma transgressão, como empinar pipas sobre a laje de um barraco, e, de certa forma, merecedoras da execução sumária que sofreram. Há até aqueles que justificam chacinas e comemoram o “cancelamento de CPFs”. Em outros artigos, já denunciei o genocídio de jovens e crianças negras que se perpetra impunemente há décadas no Brasil.

 

A tristeza com a morte desse menino deveria nos inspirar a nos posicionarmos também contra essas outras duas formas de violência que atingem as crianças em nosso país

 

A segunda, quando as vítimas são as crianças ainda não nascidas e que não dispõem sequer de um nome ou retrato para ilustrar o noticiário. São as centenas de milhares de vítimas anuais de abortos provocados para interromper uma gestação. 

Os principais métodos para induzir um aborto são a aspiração e a ingestão de remédios que provocam contrações na gestante. Em ambos os processos, os tecidos e órgãos do feto são dilacerados e são arrancados do útero por uma força externa, irresistível e implacável. A crueldade e a violência praticadas contra esses pequeninos humanos em processo de desenvolvimento nada deixa a dever aos socos e pontapés que tiraram a vida do menino Henry.

A tragédia do menino Henry, como a da menina Isabela Nardoni há alguns anos, chocou de modo extremo porque ocorreu dentro do seu próprio lar, supostamente o seu refúgio mais seguro contra a violência do mundo externo. O que dizer então da violência abortiva praticada no ventre materno que deveria abrigar e nutrir o filho em gestação? Cada criança abortada sofreu dor e martírio semelhantes aos do menino Henry e a responsabilidade de seus algozes também está naqueles que praticaram os abortos.

A tristeza com a morte desse menino deveria nos inspirar a nos posicionarmos também contra essas outras duas formas de violência que atingem as crianças em nosso país.

Dedico o artigo de hoje, neste domingo em que se celebra o Dia das Mães, a todas as leitoras que são mães e às mães de todos os leitores. Dedico-o tanto às mães que ainda nos cuidam de perto quanto às mães que nos protegem lá de onde estão na pátria espiritual. E também, carinhosamente, dedico-o àquelas que se tornaram mães por adoção e provam todos os dias que o vínculo do amor é que define a maternidade e que o amor sempre há de vencer.   Muito obrigado mamães!



[1] Luiz Henrique Lima é Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT – Fonte: https://www.rdnews.com.br/artigos/o-menino-henry-o-genocidio-e-o-aborto/144022

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sábado, 25 de janeiro de 2020

MUITO ALÉM DE UMA PIRRALHA


Luiz Henrique Lima[1]

Enganam-se aqueles que pensam poder desqualificar a ativista sueca Greta Thumberg

Luiz Henrique Lima
Enganam-se aqueles que pensam poder sufocar o debate sobre o agravamento da crise climática simplesmente agredindo ou tentando desqualificar a sua mais conhecida porta-voz, a ativista sueca Greta Thumberg. Foi o que tentou fazer o poderoso Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, durante pronunciamento no Fórum Econômico Mundial em Davos. Não deu certo.
Sua fala foi rechaçada não apenas pela opinião pública mundial, mas também pelas principais lideranças políticas e empresariais presentes ao encontro, a começar pela respeitada chanceler Angela Merkel que, mesmo representando um pensamento conservador, reconheceu a gravidade e a urgência do tema das mudanças climáticas e a importância do movimento de conscientização e protesto que mobiliza milhões de jovens em todos os continentes.
 Para usar um termo desgastado, mas que no caso se aplica perfeitamente, o movimento Fridays for Future viralizou. A cada semana, ocorrem centenas de manifestações em dezenas de países. Algumas reúnem um punhado de estudantes, outras envolvem milhares de pessoas de todas as gerações. Embora Greta tenha sido a pioneira em 2018, nada teria essa duração e essa dimensão se o problema não fosse real e se as suas prováveis consequências não representassem uma grave ameaça global para as próximas gerações.
Toda a comunidade científica internacional utiliza como referência para esse debate os relatórios elaborados pelo IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, organização criada em 1988 por iniciativa da Organização Meteorológica Mundial e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

“Enganam-se aqueles que pensam poder sufocar o debate sobre o agravamento da crise climática simplesmente agredindo ou tentando desqualificar a sua mais conhecida porta-voz, a ativista sueca Greta Thumberg”

Cada relatório do IPCC demanda anos de trabalhos e discussões envolvendo centenas de cientistas das mais variadas especialidades (oceanógrafos, geógrafos, geólogos, físicos, epidemiologistas, biólogos, economistas etc.) e antes de ser divulgado é submetido a rigorosas avaliações independentes.
É com base nos diversos cenários apresentados pelo IPCC que se construíram os acordos internacionais, com destaque para a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, assinada no Rio de Janeiro em 1992, o Protocolo de Quioto de 1997 e o Acordo de Paris de 2016.
Diversos países elaboraram seus próprios estudos e levantamentos sobre os efeitos das mudanças climáticas. Um dos principais foi o Relatório Stern, coordenado pelo economista-chefe do Banco Mundial por solicitação do governo britânico. Nele ficou demonstrado que o custo de não enfrentar as mudanças climáticas é várias vezes superior ao custo de medidas de prevenção e mitigação.
No Brasil, trabalho conduzido por pesquisadores da USP, Unicamp, UFRJ, Embrapa e Fiocruz concluiu que o país poderá perder até 2050 cerca de R$ 3,6 trilhões em razão dos impactos provocados pelas mudanças climáticas. Um conjunto de auditorias operacionais do TCU apontou riscos muito graves não apenas para a Amazônia, mas para o agronegócio, o Semiárido e as zonas costeiras.
Em suma, goste-se ou não da imagem e das falas da jovem Greta, que uma irritada autoridade denominou pirralha, o fato é que a causa que ela abraçou diz respeito a um problema real e de máxima importância para todos. Não é à toa que essa foi uma das principais, senão a maior, pauta do Fórum Econômico Mundial de 2020.
Ainda esta semana a maior gestora de fundos de investimentos do planeta, a BlackRock, responsável por uma carteira de 7 trilhões de dólares, anunciou em carta ao mercado que a sustentabilidade será o centro de sua estratégia de investimentos. Centenas de líderes empresariais estão assumindo compromissos neste sentido.
A economia mundial está mudando, não por bondade ou boa vontade, mas por necessidade. Há nisso enormes oportunidades para países e regiões com fartura de biodiversidade, recursos hídricos e florestais, e potencial de geração de energia solar e eólica.
Enquanto isso, a maior autoridade brasileira presente em Davos notabilizou-se pela bizarra afirmação de que a destruição ambiental é provocada pelos pobres...


[1] Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT - Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia.
Fonte: https://www.midianews.com.br/opiniao/muito-alem-de-uma-pirralha/368580


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COMBATER O RACISMO


Luiz Henrique Lima[1]


Luiz Henrique Lima
O racismo existe na sociedade brasileira. Está profundamente enraizado na nossa cultura. O racismo brasileiro é particularmente longevo porque é habilmente dissimulado sob o discurso hipócrita de que somos uma nação sem preconceitos. O racismo brasileiro se manifesta todos os dias, de múltiplas formas, do sul ao norte, do oeste ao leste. O racismo brasileiro é brutal e cruel, principalmente com as crianças e jovens negros, que desde a infância sofrem violências e abusos, verbais, psicológicos e físicos. O racismo brasileiro precisa ser combatido todos os dias, mas jamais será vencido enquanto não for reconhecido.
Por ocasião da celebração do Dia Nacional da Consciência Negra, li, ouvi e assisti um sem número de comentários e opiniões dizendo que esse dia não deveria existir, por essa ou aquela razão. Discordo.
É necessário sim que haja pelo menos uma data dedicada à reflexão sobre a situação do povo negro em nosso país. Porque nunca seremos uma nação plenamente democrática, civilizada e justa enquanto o racismo não for extirpado e enquanto as manifestações racistas não forem denunciadas com vigor e repelidas com nojo.
Fomos a última nação americana a abolir a escravidão, não por concessão da monarquia e do conservadorismo, mas graças à heroica luta de abolicionistas como Luiz Gama, José do Patrocínio, André Rebouças, Joaquim Nabuco, Olavo Bilac, Rui Barbosa e o bravo cearense Francisco José do Nascimento, o "Dragão do Mar", que se recusava a transportar escravos em sua jangada.
Todavia, a abolição da escravidão não aboliu o preconceito e a discriminação racial, que são tão profundos na nossa cultura ao ponto de que não é incomum presenciar babás negras de crianças brancas discriminarem crianças negras que brincam no mesmo ambiente ou policiais negros abordarem preferencialmente como suspeitos os adolescentes e jovens negros, desconsiderando os brancos quando em situações semelhantes.
As atitudes racistas ocorrem a cada momento e muitos fingem não ver ou "levam na brincadeira". Racistas são covardes, violentos e traiçoeiros.
Quem tem filhos, afilhados ou amigos próximos de origem negra sabe muito bem que a discriminação começa praticamente no berço. Já na primeira infância se multiplicam as "brincadeiras" em classe ou nos parquinhos acerca do "cabelo ruim" das crianças negras.
O crescimento não alivia a violência. Como se sabe, os adolescentes e jovens negros são o alvo preferencial das "balas perdidas" de nossa insegurança urbana e têm três vezes maior probabilidade de serem vítimas de homicídios.
Os negros sobreviventes, os que conseguem concluir o ensino superior e até a pós-graduação, esses vão ser discriminados no mercado de trabalho. Entre os negros, o desemprego é maior; entre os empregados, os negros ganham menos e ocupam uma fração ínfima de posições de liderança. E aqueles que as alcançam, quando não são celebridades nacionais, sofrem episódios de discriminação ao tentar se registrar em um hotel ou embarcar em um cruzeiro marítimo, confundidos com seguranças, motoristas ou domésticas de algum patrão branco.
Portanto, é grave hipocrisia negar a presença e a força do racismo na sociedade brasileira. Não se pode derrotar aquilo que não se conhece ou que não é visto como um inimigo crucial de um projeto de nação tão bem delineado no preâmbulo da nossa Constituição da República: "instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social..." E, ainda, no art. 3º: constitui objetivo fundamental da República brasileira, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Isso não ocorrerá enquanto não vencermos o racismo e para isso precisamos reconhecê-lo e combatê-lo todos os dias.

[1] Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT - Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. Fonte: https://www.tce.mt.gov.br/artigo/show/id/390/autor/6

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ÓDIO A GRETA


Luiz Henrique Lima[1]

Luiz Henrique Lima
Um dos espetáculos mais deprimentes dos últimos meses é o vendaval de calúnias, impropérios e mentiras que se abateu sobre uma frágil adolescente sueca, Greta Thunberg. É patético ouvir mulheres, muitas vezes oprimidas e discriminadas em seus ambientes profissionais e familiares, reproduzindo maledicências de extremo conteúdo misógino. É nauseante presenciar setentões zangados, que jamais moveram um dedo por uma causa de interesse coletivo, postando zombarias quanto ao fato da jovem ser portadora da Síndrome de Asperger. Visão, uma revista portuguesa (www.visao.sapo.pt), fez uma extensa matéria sobre as "mentiras mais loucas" que são propagadas contra essa garota. Até o vídeo de alguém atirando com uma metralhadora foi divulgado como se fosse ela, além de calúnias sobre seus pais.
Por que tudo isso?
Greta incomoda e muito porque com a sua iniciativa solitária alguns meses atrás de postar-se com um cartaz de protesto defronte ao Parlamento sueco deflagrou um movimento de milhões de jovens em dezenas de países.
Greta irrita e muito porque a crueza e objetividade de suas palavras denuncia, por contraste, a hipocrisia de discursos empolados que disfarçam a inércia e o conformismo.
Greta exaspera e muito porque o seu ativismo põe a nu a inação de tantos que tinham a obrigação ética e profissional de agirem.
Greta desconforta e muito porque a sua coragem contrasta com a covardia de tantos líderes políticos e empresariais.
Os reacionários e ressentidos criticam Greta de todas as formas e por quaisquer motivos. E quando faltam motivos, inventam-nos, temperando-os com inveja, raiva e brutalidade.
Exigem que Greta, com seus dezesseis anos, apresente a maturidade e o equilíbrio que não cobram de Trump e assemelhados.
Reclamam que Greta, estudante secundarista, não conclua suas críticas com "soluções técnica e economicamente viáveis", que nem os próprios governos e conglomerados empresariais conseguem formular e/ou muito menos implementar.
Denunciam que Greta é repetitiva e monotemática, ao cuidar apenas da questão das mudanças climáticas, sem perceber que isso é, ao mesmo tempo, uma virtude e uma necessidade. Virtude, porque ela não tem a pretensão de abraçar todas as causas, mas se concentrar naquela que julga a mais importante ou na qual sua participação pode ser mais efetiva. Necessidade, porque enquanto uma crise não é resolvida - e ao contrário se agrava – tanto mais crucial que o problema seja debatido.
Quanto a mim, não tenho ódio nem raiva a Greta Thunberg. Tenho admiração pela sua coragem e desprendimento. Tenho respeito pela sua sinceridade e também, reconheço, tenho um pouco de inveja de sua juventude e vitalidade. E tenho muita compaixão da miséria moral, intelectual e emocional dos seus detratores.
Vá em frente, Greta! Torço por ti e pela tua geração de jovens, que é a dos meus filhos, que se dedicam a lutar pela vida. Como cantava Gonzaguinha, "eu acredito é na rapaziada que segue em frente e segura o rojão (...) eu vou à luta com essa juventude que não corre da raia à troco de nada".
PS: Esse artigo já estava pronto quando uma autoridade de nosso país depreciativamente qualificou Greta como "pirralha", o que me fez lembrar Tom Jobim: "se todos (os pirralhos) fossem no mundo iguais a você, que maravilha viver ...".


[1] Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT - Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental,  Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. Fonte: https://www.tce.mt.gov.br/artigo/show/id/393/autor/

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