terça-feira, 13 de março de 2012

Ser ético

Gabriel Novis Neves[1]
A educação caseira e a influência do meio em que estamos inseridos fazem com que adquiramos um conjunto de valores morais e éticos. Esses valores irão nortear o nosso comportamento na sociedade.
Quando nos falta essa base - principalmente a familiar saudável - ficamos como que ao acaso da vida, tal qual um barco à deriva. Às vezes conseguimos incorporar valores positivos ao longo da vida, mas é difícil. O mais previsível é uma vida sem caminhos e retornos, ou tortuosos. Estamos em uma situação muito parecida com aquela do profeta baiano Rui Barbosa no seu famoso discurso - Oração aos Moços.
A mediocridade já se implantou em nosso país em todos os setores, sejam culturais, educacionais, sociais, políticos, econômicos. Em um quadrado desses é difícil ser ético, talvez em pensamento.
Modernamente, os não éticos principalmente, são generosos na utilização dessa palavra, agora acompanhada de transparência.
A ética e a transparência, massificadas como estão, causam mal estar àqueles que não perderam ainda toda a sensibilidade.
Os éticos que conheci - muitos já nos deixaram - jamais se utilizaram dessas palavras hoje tão banalizadas: ética e transparência.  Repare nos exaltados defensores e nos propagandistas da ética com transparência, o seu comportamento social geralmente digno de reparos. É uma vergonha, como diria alguém.
Para ser ético hoje neste país, paga-se um preço altíssimo. Chego mesmo a dizer desanimador. É quase uma renúncia total, para uma vida quase sem interlocutores. Em alguns momentos, até mandar os escrúpulos às favas não está descartado, embora carregando a cruz do remorso para o resto da vida.
Outros, pelas circunstâncias, pagam penitências por deslizes que jamais aceitaram ter cometidos. Esses são éticos mais conscientes, que apresentaram pequenas falhas de caráter pela própria condição humana. Mas, logo se redimem. É penoso manter-se ético em uma sociedade mercantilista, individualista, competitiva, materialista, onde a filosofia predominante é que os meios justificam os fins.
Houve no mundo, e o Brasil faz parte do pedaço não muito sadio do mundo, um esforço planejado, e executado com sucesso, para reduzir a ética em palavra de retórica.
São os tempos modernos, com certeza - diria meu pai ao ler este artigo. O constrangimento foi banido e não incomoda aos contraventores da ética. Esses só pensam neles. Parece que é um favor ser ético e, no nosso país, ser ético é quase igual vender a alma a interesses menores - antigamente chamado de diabo. Quando temos que nos calar, porque todos têm telhados de vidros, só nos resta lembrar que um dia este país foi ético.
[1] Médico e ex-reitor da Universidade  Federal de Mato Grosso

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