sábado, 25 de janeiro de 2020

COMBATER O RACISMO


Luiz Henrique Lima[1]


Luiz Henrique Lima
O racismo existe na sociedade brasileira. Está profundamente enraizado na nossa cultura. O racismo brasileiro é particularmente longevo porque é habilmente dissimulado sob o discurso hipócrita de que somos uma nação sem preconceitos. O racismo brasileiro se manifesta todos os dias, de múltiplas formas, do sul ao norte, do oeste ao leste. O racismo brasileiro é brutal e cruel, principalmente com as crianças e jovens negros, que desde a infância sofrem violências e abusos, verbais, psicológicos e físicos. O racismo brasileiro precisa ser combatido todos os dias, mas jamais será vencido enquanto não for reconhecido.
Por ocasião da celebração do Dia Nacional da Consciência Negra, li, ouvi e assisti um sem número de comentários e opiniões dizendo que esse dia não deveria existir, por essa ou aquela razão. Discordo.
É necessário sim que haja pelo menos uma data dedicada à reflexão sobre a situação do povo negro em nosso país. Porque nunca seremos uma nação plenamente democrática, civilizada e justa enquanto o racismo não for extirpado e enquanto as manifestações racistas não forem denunciadas com vigor e repelidas com nojo.
Fomos a última nação americana a abolir a escravidão, não por concessão da monarquia e do conservadorismo, mas graças à heroica luta de abolicionistas como Luiz Gama, José do Patrocínio, André Rebouças, Joaquim Nabuco, Olavo Bilac, Rui Barbosa e o bravo cearense Francisco José do Nascimento, o "Dragão do Mar", que se recusava a transportar escravos em sua jangada.
Todavia, a abolição da escravidão não aboliu o preconceito e a discriminação racial, que são tão profundos na nossa cultura ao ponto de que não é incomum presenciar babás negras de crianças brancas discriminarem crianças negras que brincam no mesmo ambiente ou policiais negros abordarem preferencialmente como suspeitos os adolescentes e jovens negros, desconsiderando os brancos quando em situações semelhantes.
As atitudes racistas ocorrem a cada momento e muitos fingem não ver ou "levam na brincadeira". Racistas são covardes, violentos e traiçoeiros.
Quem tem filhos, afilhados ou amigos próximos de origem negra sabe muito bem que a discriminação começa praticamente no berço. Já na primeira infância se multiplicam as "brincadeiras" em classe ou nos parquinhos acerca do "cabelo ruim" das crianças negras.
O crescimento não alivia a violência. Como se sabe, os adolescentes e jovens negros são o alvo preferencial das "balas perdidas" de nossa insegurança urbana e têm três vezes maior probabilidade de serem vítimas de homicídios.
Os negros sobreviventes, os que conseguem concluir o ensino superior e até a pós-graduação, esses vão ser discriminados no mercado de trabalho. Entre os negros, o desemprego é maior; entre os empregados, os negros ganham menos e ocupam uma fração ínfima de posições de liderança. E aqueles que as alcançam, quando não são celebridades nacionais, sofrem episódios de discriminação ao tentar se registrar em um hotel ou embarcar em um cruzeiro marítimo, confundidos com seguranças, motoristas ou domésticas de algum patrão branco.
Portanto, é grave hipocrisia negar a presença e a força do racismo na sociedade brasileira. Não se pode derrotar aquilo que não se conhece ou que não é visto como um inimigo crucial de um projeto de nação tão bem delineado no preâmbulo da nossa Constituição da República: "instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social..." E, ainda, no art. 3º: constitui objetivo fundamental da República brasileira, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Isso não ocorrerá enquanto não vencermos o racismo e para isso precisamos reconhecê-lo e combatê-lo todos os dias.

[1] Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT - Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. Fonte: https://www.tce.mt.gov.br/artigo/show/id/390/autor/6

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